A agricultura familiar desempenha um papel fundamental na segurança alimentar, na economia local e na preservação ambiental. No entanto, um dos principais desafios enfrentados por pequenos agricultores é o acesso ao crédito. Este recurso, quando bem direcionado, pode transformar a produção agrícola e impulsionar práticas sustentáveis, promovendo um ciclo virtuoso de desenvolvimento.
O impacto do crédito na adoção de tecnologias sustentáveis
A falta de recursos financeiros muitas vezes impede os pequenos agricultores de investir em tecnologias mais modernas e sustentáveis. Sistemas de irrigação eficiente, biofertilizantes, técnicas de plantio direto e mecanização adaptada são exemplos de inovações que podem aumentar a produtividade enquanto reduzem o impacto ambiental. Com acesso ao crédito, os agricultores têm condições de adotar essas soluções, elevando a qualidade de vida no campo e contribuindo para a conservação dos recursos naturais.
Financiamento e preservação ambiental: uma relação simbótica
Crédito orientado para a sustentabilidade não é apenas um benefício para os agricultores, mas também para o meio ambiente. Projetos de reflorestamento, sistemas agroflorestais e a produção orgânica são financiáveis por programas de crédito específicos e ajudam a reduzir a emissão de gases de efeito estufa, proteger a biodiversidade e melhorar a qualidade do solo. Assim, o financiamento não apenas aumenta a produtividade, mas também cria um impacto positivo na luta contra as mudanças climáticas.
Estratégias para incluir a sustentabilidade nos critérios de financiamento
Para que o crédito seja efetivamente um impulsionador do desenvolvimento sustentável, é necessário repensar os critérios de concessão. Bancos e instituições financeiras podem adotar medidas como:
- Oferecer linhas de crédito com juros reduzidos para práticas sustentáveis.
- Exigir planos de manejo ambiental como parte das condições para liberação do recurso.
- Capacitar agricultores em educação financeira e boas práticas agrícolas.
- Estabelecer parcerias com governos e organizações para criar fundos de incentivo.
Políticas públicas como catalisadoras do processo
Recentemente, a criação de novas leis e programas tem buscado facilitar o acesso ao crédito na agricultura familiar. Um exemplo é a aprovação de projetos que aumentam os recursos destinados a este setor, reconhecendo a importância de fortalecer os pequenos produtores. Medidas como essas têm potencial para democratizar o acesso ao crédito, promovendo a inclusão social e econômica.
A agricultura familiar é de pluriatividade e, por isso, precisamos escalar melhor as oportunidades [de diversificação de culturas] para auxiliar os produtores”, considera. Para ele, o cenário ideal é que o próprio agricultor familiar tenha capacidade de articular esses investimentos, acessando quem tem o recurso para emprestar.
No Estado nordestino, são 600 mil famílias ligadas a empreendimentos familiares, segundo dados do último Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além das dificuldades do acesso ao crédito, produtores baianos vêm enfrentando, nas últimas safras, o agravamento das perdas devido ao clima adverso, observa o diretor de crédito financeiro do Banco do Nordeste, Wanger de Alencar Rocha.
“Antes, o conceito que usávamos era o enfrentamento à seca, mas agora é de convivência com a seca, e as famílias no campo sentem isso e querem aproveitar as oportunidades de linhas de crédito específicas”, diz. “O dinheiro colocado na agricultura familiar circula e se multiplica”, acrescenta.
Na Bahia, segundo o Banco do Nordeste, este ano já foram 150 mil operações de crédito para o setor, o que totaliza R$ 2 bilhões. São cerca de 20 mil operações de microcrédito por dia feitas pelo banco, cita Rocha.
O crédito é muito mais do que um recurso financeiro: é uma ferramenta de transformação. Quando alinhado a objetivos sustentáveis, pode aumentar a produtividade, melhorar a qualidade de vida dos agricultores familiares e proteger o meio ambiente. Investir em crédito para a agricultura familiar é, portanto, um passo essencial para o desenvolvimento sustentável, beneficiando tanto as gerações presentes quanto futuras.